15.2.10 - Chronicles Of Life And Death

Não era da minha vontade subir aquele raio de escadaria. Eram degraus, milhares deles. Relutante, começei a subi-los imaginando as possíveis formas de como se assassinar lenta e vagarosamente o ser que resolvera um dia ter a idéia de inventar um intrumento de transporte, na falta de melhores termos, tão desagradável e cansativo. Degráus pintados de branco, em meio ao mais puro nada, tudo branco. Como uma pessoa normal, me perguntei onde estaria. Não poderia ser uma de minhas viagens, pois Manolo havia surrupiado em um ato desesperado meus sacos de cocaína. Se caso eu conseguir sair daqui, devo me lembrar de atirá-lo da janela do ultimo andar de um prédio bem alto, com a desculpa de estar analisando os efeitos gravitacionais terrestres.
Depois de prováveis cinquenta minutos, a aparente tortura chegou ao fim. Meus pulmões e coração pareciam estar criando vida própria, e estavam aspirando avidamente saltar para fora de meu peito. Era uma plataforma ampla. Em um dos cantos, uma singela ovelha sem olhos pastava um tufo de grama que brotava diretamente do concreto. Encarei a figura bizarra por alguns segundos, atordoada, até que me dei conta que além da singela ovelha, havia uma mesa. Atrás da mesa, um homem de cabelos negros perfeitamente penteados para trás, terno de tweed igualmente negro, óculos de grau de armação fina. Digitava incessantemente em uma máquina de escrever.
Me aproximei, cumprimentando-o, e ele ergueu a cabeça, me encarando por alguns segundos e retribuiu o cumprimento. No crachá que usava, pude ler o nome "Pedro". "O que diabos era aquilo?", pensei.
- Não devia mencioná-lo num lugar como esse, sabia?
Arregalei os olhos, perante o "transmimento de pensação" o qual ele havia feito agora. Meus lábios levemente abertos balbuciaram a pergunta que eu mais ansiava perguntar: Onde eu estava?
Talvez, eu não devesse ansiá-la tanto assim. Com sua resposta, descobri que havia partido de uma para a melhor, ou pior, nunca se sabe. A primeira coisa que se passou pela minha confusa cabeça foi o fato que eu deveria ter pagado todos os meus pecados subindo aquele raio de escadaria. Raio de escadaria, raio de escadaria, esse mesmo conjunto de palavras ressoando pelos meus ouvidos não era muito reconfortante.
- Só que... - Pedro disse, olhando para mim muito rígido e sério. - Não te querem no inferno. O diabo acha que depois de algum tempo de convivência, você pode tomar o lugar dele. Como, para o céu não podes ir, terá que voltar para a Terra.
Irra! Comemorei. Mas, como assim? Não sou digna o suficiente nem de ir para o inferno? Se Hitler foi para o inferno, porque diabos, eu não poderia ir também? Será que eu fora uma pessoa tão malvada assim?
- Só que... - as duas palavras foram deixadas novamente pelos lábios finos daquele homem. Amedrontaram-me, caso tenha curiosidade de saber - Seu corpo não está disponível, foi um imenso estrago que você aprontou, então, você tem duas opções: A primeira, é uma senhora solteirona e maluca, que vive com vinte gatos. - Sinceramente, essa opção não era muito cogitativa a mim. Quem sabe a segunda? - E a segunda é de um professor.
Oras, é claro que eu queria a segunda! Eu só precisava ensinar um bando de pentelhos, não?
Enfim, voltei. Nada de festas, nada de bebidas, nada de drogas, nada de gangues unidas para torturar pessoas inocentes na rua. E um corpo de um homem de 47 anos, gordo, solteiro e calvo. Mas, porquê diabos, tinha que ser um homem, e ainda mais nesse estado? Tenho um apetrecho a mais entre as pernas agora, e isso, é realmente muito desagradável! A idéia da senhora amante de gatos me pareceu mais tentadora.
Era o primeiro dia o qual iria lecionar naquele colégio público do ensino médio. Claro que todos ali conheciam o tal professor, mas... Eu não conhecia ninguém. Aquele colégio, quando eu estava em meu outro corpo, era o sonho de consumo: Bagunça por toda parte, professores desinteressados, drogas por todo lado.
Respirei fundo. Iria dar o meu melhor, para eu ter uma chance de ir para o céu. Apesar de tudo, eu não queria ir para o inferno. Então, eu iria me esforçar para, argh, ser uma pessoa boazinha, legal, e prometi que iria ajudar os meus alunos.
Quando cheguei a sala, minha mente se perguntou se eu estava em uma sala da aula, ou em uma cela do carandiru. A segunda alternativa me parecia mais convincente. Se bobear, só faltava os alunos se pendurarem nas hélices do ventilador. No fundo da sala, drogas eram trocadas entre alguns poucos alunos, alunas usando mini-saias jogavam charme para alguns garotos em volta. E todos conversando muito, fazendo suas bagunças. O inferno, naquele momento me pareceu bastante reconfortante, diga-se de passagem.
Joguei meus livros sobre a mesa, e começei a minha aula. Ou tentei. A cada segundo que se passava, eu me arrependia amargamente de toda bagunça que eu havia feito na sala de aula, atormentando o meu pobre professor de matemática. Com certeza, eu não devia estar nas minhas melhores condições, para estar se arrependendo disso, mas, quando você tem a visão de uma pessoa decente, vê como é repudiante tais atos de displicência. E com os dias que fui passando naquele corpo, sentia cada vez mais ódio da minha antiga pessoa, por ser tão deturpada, malvada, egoísta e sem consideração. Trabalhei, duro, tentando ajudar quem queria uma carreira promissora, e não tinha mais esperanças. Consegui fazer os alunos se interessarem pelas aulas, usando um método interessante de estudar. Fui uma boa pessoa.
Tudo isso, estragado no meio da rua, quando um adolescente drogado, provavelmente sáido de uma festa qualquer, tentou me assaltar. Como não tinha nada, ele acabou me esfaqueando, fazendo com que novamente, eu fosse subir aquele raio de escadaria.
Eu tinha meu "corpo" de volta. Uma adolescente de dezesseis anos que teve que subir nada mais do que alguns vinte degraus para se encontrar com Pedro novamente. Só não esperava o sorriso que ele me deu, quando cheguei a tal plataforma, com aquela ovelha defeituosa capinando. Eu me arrependera de todos os meus atos, e poderia entrar no céu.
Atrás da mesa a qual Pedro se sentava, um portão dourado surgiu. Eu já estava prestes a conheçer o paraíso. Até que uma pontada nas costelas me fez "voltar a vida". Manolo me "cutucara" sem a menor delicadeza, fazendo-me acordar. Então o desgraçado não havia levado todos os meus pacotes de cocaína afinal! Mas, acho que depois dessa experiência bizarra, não seria mais de meu agrado usá-las de novo. Um corpo de um professor de 47 anos pode estar me esperando...

Para: Blorkutando

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They are my everything - 2 Comments
2:40 PM

2 Comments:

Blogger Fernanda Pessanha said...

Adorei o gordo e calvo de 47 anos, nunca se sabe quando o Pedro vai querer nos ver não é?
Vou seguir.

February 15, 2010 at 6:19 PM  
Anonymous Vitória Silva said...

Nossa,´que lindo!

February 15, 2010 at 9:52 PM  

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